segunda-feira, 21 de julho de 2008

TRÊS FIOS DE PÊLO BRANCO

Na residência de um certo orador sacro de grande prestígio e renome, apareceu numa tardinha de domingo um gracioso cachorrinho preto. A turminha miúda da casa fez amizade imediata com o animal fujão. Notaram logo que na cauda do cachorro destacavam-se três fios de pêlo bem branquinho. tornando-o assim diferente de tantos outros cachorrinhos da mesma cor e tamanho que havia por ali. Logo na semana que se seguiu, um anúncio no jornal da cidade chamou a atenção daquele orador. Lia se o seguinte:
"Quem souber do paradeiro de um cãozinho preto, pequeno..." E, entre outras características mencionadas no anúncio, acrescentaram: "possui três fios de pêlo branco na cauda. Favor comunicar-se com o dono no endereço..."

O recado era bem completo e não deixava a menor dúvida. Relatando alguns anos mais tarde esse acontecimento, o grande e notável orador expressou com visível pesar: Na presença dos meus filhos, cuja personalidade estava se formando em cada um, eu separei aqueles três fios de pêlo branco dos demais e com uma pinça os arranquei fora. A obra do engano e da desonestidade parecia perfeita. Nada seria notado. O dono do animal, no entanto, soube do paradeiro do cachorrinho em nossa casa e veio procurá-lo. Pertencia às suas crianças e elas o estimavam muito. Realmente, ele conservava a grande maioria das identificações descritas e, portanto, tinha quase tudo para ser reconhecido de imediato; assim, o dono já ia levá-lo, quando lhe chamei a atenção:

- Meu senhor, na publicação que fez no jornal estava destacado em negrito o fato de que seu animal possuía três fios de pêlo branco na cauda, não é verdade? Diante do meu lembrete, o dono em vão tentou encontrá-los e, não os achando, foi obrigado a deixar o cão que reconhecia ser o seu. Esse orador, torturado pelo remorso tardio, afirmou, concluindo a narração:

"Nós ficamos com o cãozinho, mas eu perdi os meus filhos. Eles não confiavam mais naquilo que eu ensinava em meus sermões ou lhes dizia particularmente. Tudo isso porque na sua presença não pratiquei aquilo que afirmava estar estruturada a minha fé, isto é a verdade e a honestidade".